Quando um músico compõe uma música num piano, faz-lo interagindo com o seu instrumento fisicamente, uma ponte entre a sua intenção e a projeção criativa e mental, entre o que quer e o que imagina ouvir e fazer soar. Vários fatores contribuem para esta interação, e uma delas é a “fisicalidade” do momento, os dedos do pianista a tocarem nas teclas, a posição que o braço do teclista ocupa no espaço, a força ou velocidade com que toca nas teclas, a velocidade com que respira, a forma como está sentado.
“We are that strange species that constructs artifacts intended to counter the natural flow of forgetting.” — William Gibson
Estudos provam que a nossa mente possui um mapa mental do espaço ao nosso alcance: certas células cerebrais ativam-se apenas quando algo entra neste raio de alcance. Além disso, existem mapas neurais do espaço ocupado pelo corpo e do espaço além do nosso alcance.
Este esquema corporal não é fixo – ao longo do tempo pode ser expandido, através da experiência. Macacos treinados a usar ancinhos para alcançar comida fora do seu alcance demonstraram alterações nos padrões de disparo dos neurónios que controlam a mão e o braço, bem como o espaço que dois rodeia, para incluir o ancinho e a distancia que o mesmo alcança. Basicamente, a representação neural do alcance do macaco é alterada (e de certa forma expandida) pelo uso da ferramenta.
Muitos de nós passamos horas diariamente a usar o rato e o ecrã, ou o telemóvel. Será que já desenvolvemos uma nova perceção corporal na realidade digital que são as interfaces computacionais?